segunda-feira, 9 de março de 2009

As mulheres representam quase metade da mão-de-obra - entre 40 e 45% - do ramo econômico que mais cresce no país: comércio e serviços. São comerciárias; trabalhadoras domésticas; de asseio e conservação; assessoria, perícia e pesquisa; de telemarketing; hotelaria, bares e restaurantes, entre outras, cujo dia a dia muitas vezes supera a já conhecida tripla jornada.
Enquanto de um lado a imprensa noticia o desempenho econômico cada vez maior do ramo de comércio e serviços – que em 2008 cresceu por volta de 10% - , do outro lado, trabalhadores e trabalhadoras experimentam uma sobrecarga cada vez maior, especialmente as mulheres.
“Trabalhar é necessário e gratificante, mas viver somente em função do trabalho é desumano. A categoria comerciária e de serviços, muitas vezes, trabalha em condições desumanas. Além do local de trabalho não oferecer saúde e segurança, do assédio moral e sexual serem parte da rotina, ainda há o trabalho aos domingos e feriados”, salienta Lucilene Binsfeld, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT – Contracs.
Lucilene denuncia: “Temos relatos de trabalhadoras que entram em pânico aos sábados e vésperas de feriados, quando a empresa em que trabalham anuncia o funcionamento aos domingos e feriados. Contracs e CUT têm uma luta histórica para acabar com essa situação, sem falar na luta geral pela redução da jornada, sem redução de salários que vai pôr fim às jornadas desumanas e ainda gerar empregos”.
“F.”, ex-trabalhadora de uma grande rede comercial com lojas em todo o Brasil, cita a dificuldade de ficar longe da família aos domingos e feriados como pior momento de sua carreira. Enquanto trabalhou no comércio, “F.” quase não encontrava as filhas, que tinham 10 e 8 anos: “quando eu saía, pela manhã bem cedo, elas estavam dormindo e quando eu voltava lá pelas dez da noite, elas já estavam dormindo de novo”.
Histórias como essa estão mais para regra do que para exceção: “o que mais encontramos são trabalhadoras no comércio e serviços sobrecarregadas com uma jornada incompatível com qualquer pessoa. Além disso, o assédio moral e as lesões por esforços repetitivos (LER) são causadores de danos irreparáveis aos trabalhadores/as e nós precisamos mudar isso”, destaca Maria Isabel Caetano dos Reis, Secretária de Organização do Setor de Serviços e presidenta do Sindiserviços do DF.
Jornada excessiva, desigualdade, distanciamento da família, problemas de saúde causados por condições de trabalho inadequadas e relações humanas perversas no trabalho que geram assédio moral e sexual perseguem as trabalhadoras do ramo de comércio e serviços.
Depois de uma semana exaustiva de trabalho, que chega a beirar 56 horas semanais nos grandes centros urbanos, com muita hora-extra – muitas vezes não pagas - e fadiga física e emocional, as trabalhadoras se perguntam: para quê trabalhar nos domingos e feriados se os filhos estão em casa, as creches não funcionam, há menos ônibus e menos segurança nas ruas? Será que milhões de trabalhadores/as do ramo de comércio e serviços precisam padecer de tanto trabalhar? São perguntas que as trabalhadoras fazem à sociedade. Alguém se habilita a responder?
Se a resposta for difícil, a Contracs/CUT convida os leitores/as a realizarem uma experiência: se você não é trabalhador/a do ramo de comércio e serviços, sente-se por um instante - porque cansa - e imagine: fazer duas horas-extras por dia, além do tempo de deslocamento até o trabalho. Depois imagine ter horário rígido para entrar e não ter hora para sair. Pense em trabalhar o sábado inteiro, o domingo todo e nos feriados também. E quando você descansar, a cada 15 dias, isso ocorrer durante a semana quando todos de sua casa estiverem trabalhando. Inclua nessa experiência, acabar com as idas ao cinema, com o passeio no parque, com a possibilidade de estudar, com a conversa com os amigos e com a convivência com os filhos. Depois de se imaginar nesse quadro, em que estão milhões de trabalhadoras do ramo de comércio e serviços, como você se sentiu? Se a sua experiência imaginativa não foi boa, você pode imaginar como é difícil o dia a dia de uma trabalhadora cuja jornada não é só tripla... muitas vezes é cruel.

Retirado do portal: www.observatoriosocial.org.br

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