Antes de entrar de fato na opinião sobre o Dia do Trabalhador, quero deixar claro que não estou espalhando desilusão sobre o movimento popular organizado. A história nos conta como nasceu esse dia e a necessidade de tanta mobilização, principalmente quando ainda temos um inimigo “mascarado” que nos tenta vender ilusões.
Dentro de tantas bandeiras essenciais temos a Redução da Jornada de Trabalho, infelizmente o que poderia ser não foi, um grande agente mobilizador, onde as centrais sindicais deveriam ter unificado. Mesmo com todas as divergências, essa com certeza conciliaria e faria a diferença nesse dia. Lembrei agora do Grito da Terra em Iguatu (1997), quando aprendi que “Um povo unido é um povo forte,” e com isso ocupamos a cidade centro-sul do estado.
Voltando ao tema, eu não senti o ardor popular, e até compreendo que montar com ato- show é uma forma de mobilizar e já faz um tempo que esses instrumentos são usados, mas qual resultado tirado com isso? Concordo que as manifestações artísticas devem permear todos os eventos populares, mas uma coisa é a difusão cultural, outra coisa é reforçar estereótipos e rótulos criados numa sociedade e que nós não concordamos. O 1º de Maio tem um grande sentido, de luta, e que não podemos perder de vista.
Eu compreendo que as conjunturas são diferentes, mas a opressão à classe trabalhadora não é, tendo marcas e semelhanças muito fortes. Vendo o noticiário sobre o Dia do Trabalhador na Grécia [mais uma vez, não quero copiar nada] destaco a mobilização do povo, contra algo além de um pacote governamental, um dia marcado pelo confronto dominante x dominado e não vejo que lutar seja um crime ou algo arcaico ou fora de moda. Os trabalhadores precisam se reconhecer no processo mudancista e colocar pra fora a indignação frente às injustiças sociais. Reconheço também que vivemos um governo progressista e que obtivemos vitórias significativas, mas o sistema ainda é o mesmo, sendo necessária mais ousadia da nossa parte.
E a mídia? Essa merece vários comentários, cumpre o papel “desinformador” e através das edições de imagens e notícias “imparciais” continuam a dizer ao trabalhador que o dia é do Trabalho [mesmo que Getúlio tenha definido isso, eu não concordo] e ainda fazem reportagens que distorcem a realidade do que acontece no dia-a-dia dos que fazem a roda da fortuna girar no Brasil.
É revoltante assistir o Jornal Nacional e ver a repercussão tão empobrecida de um dia tão grandioso. É muito maldoso afirmar que as Centrais Sindicais recebem verba estatal pra financiar as mobilizações, como se isso fosse ilegal, pois bem, e esse veículos que há muitos anos recebem “rios” de dinheiro de publicidade oficial, que de fato é o que dá mais lucro a esses meios de comunicação e isso eles não falam, como se não necessitassem do aparelho governamental pra sobreviver.
Pra finalizar, penso que precisamos de um “reboliço” maior, desorganizar essa sociedade. Mesmo com as conquistas de direitos sociais, sabemos que ainda é pouco e existe a necessidade de engajar os trabalhadores e trabalhadoras em algo bem maior, passando pelo processo de conscientização popular, como diz uma letra da banda Natiruts “A consciência do povo daqui é o medo dos homens de lá”. Devemos lutar para conseguirmos influenciar mais no potencial de intervenção popular, conquistando as amplas massas e visando sempre desfazer a propaganda midiática de que o movimento está fragmentado ou enfraquecido. A história é para ser construída e nos cabe revolucionar essa edificação e com serenidade e de cunho revolucionário, eu vejo que o momento exige isso.
PS: Duas cenas que me emocionaram no 1º de Maio: na linha de ônibus Grande Circular 1, fitei um homem lendo durante o trajeto até o terminal de Messejana o Manifesto do Partido Comunista; a outra foi passar por uma ocupação do MST no José Walter. Muita gente, com risco de chuva, mas as pessoas permaneceram ali.
Ivina Carla é estudante de Jornalismo da Faculdades Cearenses (http://ivinacarla.blogspot.com/)
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